Capítulo 24 - A linhagem familiar do autor


O filho mais velho de Luigi Erminio Zavarise e Maria Dassie foi o meu bisavô Agostino Antonio Zavarise, que se casou em Jaciguá com minha bisavó Antonina Fuser, em 1922.

Dos 8 filhos que tiveram o casal, um deles era o meu avô materno, Tranquilo Zavarise.
(Tranquilo Zavarise, neto de Luigi Erminio e Maria Dassie)
Desde que nasceu em 01 de junho de 1929, no distrito de São José de Fruteiras, vovô Tranquilo já trazia consigo uma inquietude que contradizia o seu nome de batismo, relativamente comum no nordeste da Itália.

Apesar do pouco estudo e da origem humilde, era bilíngue em português e na língua vêneta. Tocava acordeon, era um habilidoso artesão e particularmente interessado pela criação e funcionamento de máquinas.

Com vocação nata para o trabalho, juntamente com seus pais e os sete irmãos, deixou as lavouras de café do sul do estado em 1950, poucos dias depois de seu casamento com minha avó Deonilda Vannini migrando para o município de Nova Venécia, incentivados pelas políticas de abertura e povoamento do norte do estado.

Casa construída por meu bisavô Agostino Antônio e filhos nas terras de Nova Venécia-ES, onde nasceram minha mãe e tios
Em Nova Venécia nasceram-lhes sete filhos: Wantuil, Inêz, Helena, Zelinda, Odete, Neuza e Amarildo.

Desiludido com a baixa fertilidade das terras venecianas e o pouco lucro do café ali cultivado, ouve falar animadoramente da pujança econômica do recém emancipado município de Itamaraju, no extremo sul da Bahia, zona cacaueira.

Convencido por seu tio Antônio e seus primos Geraldo e José, que usavam um caminhão Reo para transportes entre Nanuque-MG e o sul da Bahia, de que aquela jovem cidade seria o lugar ideal para abertura de uma serraria por conta da abundância de madeiras de lei, vende seu pequeno lote de terra em Nova Venécia para seus irmãos e muda-se em 1963 com toda a família, trazendo consigo seu irmão Agostino e família.

Em Itamaraju, meu avô protagonizou algumas das primeiras inovações tecnológicas vistas ali: maquinário de beneficiamento de arroz, a primeira serraria, a primeira casa com iluminação elétrica gerada pelo motor de sua serraria além de um moinho de milho, pelo qual tinha muito apreço pois acreditava que ficaria rico vendendo fubá para os baianos, que ele imaginava também comerem polenta três vezes ao dia.

E assim foram calorosamente recebidos pelos baianos. Até hoje se ouve comentários dos mais antigos acerca do barulho que se ouvia das máquinas da serraria, da sua forte convicção católica e assiduidade às missas, de seu sotaque italianos, da beleza de seus filhos e filhas, dos seus hábitos culinários que não incluíam nem farinha de mandioca nem pimenta, o que atraía as donas de casa da cidade que queriam ver como se cozinhava a tal polenta.

Em Itamaraju, meu avô teve mais cinco filhos: Pedrinho, Vanildo, Jorginho e Edielmo.
Filhos de Tranquilo Zavarise e Deonilda Vannini em Itamaraju-BA
Em 1978, os irmãos Tranquilo e Agostino e suas respectivas famílias deixam a Bahia para novamente desbravarem outras terras, e se mudam para o sul do Maranhão.

Em Imperatriz-MA, meu avô Tranquilo vem a falecer em 2007, aos 78 anos deixando muita saudade no coração de todos por suas engraçadíssimas histórias, suas aventuras na vida e os hábitos peculiares de sua personalidade marcante.

Minha avó Deonilda Vannini faleceu em maio de 2012, aos 82 anos, em Itinga-MA. 

Meu tio-avô Agostino voltou a morar em Nova Venécia em 2010, viúvo e casado pela segunda vez.

Capítulo 23 - Dedicatória do autor do blog


- Mãinha, eu sou descendente de que? - eu, com uns 7 anos de idade.
- De italianos. Por quê? 
- A minha professora perguntou por que meu sobrenome era diferente. A senhora fala italiano?
- Só me lembro de umas palavras usadas na cozinha: piròn,  cortèo, cuciaro, burro, formai . . .

Lembro-me deste diálogo como se fosse agora: minha mãe dirigindo, nos levando para casa num fim de tarde.

Desde aquele dia eu não parei mais de acumular informações sobre este sobrenome tão diferente dos meus conterrâneos. Desde que aprendi a ler, soletrá-lo se tornou parte de minha rotina. E explicar sua origem e o porquê de meus traços físicos também. 

Nascer e crescer num lugar de cultura tão forte como a Bahia e trazer consigo as marcas do Vêneto é ser predestinado à diversidade. É ter dois rios correndo dentro de si, às vezes em paralelo, outras vezes misturando suas águas. É como ser ambidestro.

Dedico este "livro" virtual a quem me ensinou tudo: o amor a Deus e a Seu Filho, o valor do trabalho, do estudo, da palavra dita, da boa comida, da amizade carinhosa dos mais velhos, da alegria de ver a família reunida. Ensinou-me o prazer de se morar bem, a poesia que há em "Meu pé de laranja lima", o primeiro livro que leu. Aprendi que o anjo da guarda não acompanha a criança que se levanta da cama e não a arruma, que automedicação às vezes funciona melhor do que muitos médicos, que um objeto velho e usado pode ser útil novamente se for bem  guardado, que música só presta se for bem executada e tiver boa letra, que os livros têm perfume. 

Ficará para sempre em mim a lição de que é possível atravessar a dor e a decepção sem se perder o valor, o brio, a honra. E que medos, desafios e dificuldades não significam absolutamente nada para quem traz no sangue a coragem de um sonho imigrante. 

Par mea mare, la pi bèla tòsa in sità.

Capítulo 22 - Descendentes de Giuseppe - Fotos




Capítulo 21 - Descendentes de Luigi Erminio - Fotos

Bisnetos

Trineta
Trineto


Trineto
Bisneta


Trineta
Trineto


Trineto
Trineta
Trineta

Capítulo 20 - Uma viagem a Cornuda em 1997


Era o ano de 1995 quando comecei a ter acesso à internet e reunir informações e documentos sobre meus antepassados. O objetivo inicial era requerer junto ao Consulado Geral a minha cidadania.

Entre uma pesquisa e outra consegui entrar em contato com alguns Zavarise em Cornuda, tentando usar de bastante cautela para não ser inconveniente e inoportuno pois sabia de outros brasileiros que haviam feito o mesmo mas não foram bem recebidos. 

Em 1997 fui pela primeira vez à Itália e pude conhecer todo o Veneto, suas capitais de Províncias e, claro, não poderia deixar de ir até a pequena Cornuda, no interior de Treviso.

Até hoje, quando visito os meus arquivos afetivos, gosto de passear por minhas memórias em busca daquela primeira impressão. Emoções que uma filmadora (em VHS, na época) nunca conseguirá transmitir: pegar o trem em Padova, parar em Montebelluna, descer na estação de Cornuda e deixar que o trem siga sua jornada final até Levada e Calalzo antes de retornar.

Andar por Cornuda, sentir seu vento no rosto, contemplar aquela arquitetura, suas colinas, encontrar a velha casa Zavarise, mirar cada rosto nas ruas e ver meus traços contidos ali . . . a sensação de ser igual, comum, apenas mais um . . . me fez como uma árvore sugando a seiva do primeiro chão, uma gota d´água regressada à fonte, um feto que volta ao ventre de sua mãe. 

Então com 22 anos de idade, eu era o primeiro descendente de Luigi Erminio Zavarise a pisar o seu solo natal 117 anos após sua partida. Era um êxodo às avessas. 

Como desejei naquela hora que ele fosse ainda vivo e saudável para que tivéssemos juntos o prazer de ver aquela linda cidadezinha de onde partira aos 2 anos, nos braços de sua mãe Irene. Na minha mente sonhadora, eu fantasiava sua voz dizendo aos parentes: "Mi son fiol di Agostino Zavarise. Son anca di Trevis, son Cornudesi! Mi piase magnar polenta con formai, i crostoi." 

Agradeço aos parentes queridos que me receberam com tanto carinho: Giorgio, Guido, Livio, Fernanda, o lendário Rigo, patrimônio folclórico de Cornuda, e também Enzo e Ivano.


(Filmagens de minha viagem a Cornuda em 1997 e visita a alguns Zavarise locais)

Capítulo 19 - 1892: A segunda família Zavarise no ES

Passaporte da família de Giuseppe Zavarise


Capítulo 18 - A língua falada pelos Zavarise no ES

(Dialeto Veneto rústico, chamado de Talian, preservado em cidades do ES)

Chegados ao ES para trabalhar em colônias e rodeados de outros conterrâneos, os primeiros Zavarise pouco ou nada aprenderam da língua portuguesa ao longo da vida e assim transmitiram aos filhos e netos o velho dialeto do interior do Veneto, ao qual chamavam de "Talian".

Ainda hoje alguns dos netos dos primeiros Zavarise falam este "Talian". Um verdadeiro "fóssil" linguístico preservado em terras capixabas, mas já bastante influenciado pelo português. 

O Talian é a segunda língua mais falada no Brasil, depois do Português. Muito comum nos estados do ES, RS, SC e PR. No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina ela é declarada oficialmente como Patrimônio Cultural.

Este antigo dialeto veneto rústico não é mais falado da mesma forma em Cornuda e vizinhança há mais de 50 anos. Ainda se fala o dialeto veneto por lá, mas este sofreu alterações ao longo do tempo e se modernizou por influência da urbanização, do avanço nas comunicações e da alfabetização em massa na língua italiana clássica (o dialeto toscano de Pisa e Firenze). 
Exemplos da influência do português no Talian 
Palavra no Talian
Palavra no Vêneto original
Palavra no Italiano padrão
Palavra em Português
Bolo
Torta
Torta, dolce
Bolo
Caro, auto
Macchina, auto
Macchina, auto
Carro
Coraçon
Cor, core
Cuore
Coração
Galignero
Punaro ou punèr
Pollaio
Galinheiro
Garafa
Botiglia
Bottiglia
Garrafa
Inton, alora
Alora
Allora
Então
Praia
Spiaia
Spiaggia
Praia
Sapatero, scarpèr
Caleghèr ou scaporlin
Calzolaio
Sapateiro
Sià, scià
Chá
Simarón, Scimarón
-
-
Chimarrão
Sorasco, chorasco
-
-
Churrasco
Verón
Istá
Estate
Verão
Como non!
Certo! Certamente! Sicuramente!
Certo! Certamente! Sicuramente!
Como não!


(Uma filha de Trevisanos, em Venda Nova do Imigrante - ES, falando em Talian)

A Língua Veneta é uma língua latina falada por cerca de 5 milhões de pessoas. Ainda que geralmente referido como sendo um dialeto italiano, ele mostra notáveis diferenças estruturais do italiano clássico. 

Em 28 de março de 2007, o Conselho Regional do Vêneto oficialmente reconheceu a existência da língua veneta (Łéngua Vèneta). 

O veneto descende do latim vulgar, possivelmente influenciado pelo substrato venético (língua falada no Veneto no séc VI a.c., já extinta) e pelas línguas dos bárbaros germânicos (visigodos, ostrogodos e lombardos) que invadiram o norte da Itália no século V. Os mais antigos textos que podem ser reconhecidos como veneto datam do século XIII.

Como língua literária, o veneto foi ofuscado pelo "dialeto" toscano de Dante Alighieri. Após o fim da República Veneta (1797), o dialeto veneto gradualmente parou de ser usado com finalidades administrativas; e quando a Itália foi unificada no século XIX, a língua toscana foi imposta como língua nacional da Itália. Atualmente, na prática, todos os seus falantes são bilíngues, e usam o dialeto apenas em contextos informais. 

Por outro lado, o veneto se espalhou pelo mundo com a forte emigração da região do Veneto entre 1870 e 1905. Estes migrantes criaram grandes comunidades falantes de veneto na Argentina, Brasil, México e Romênia, onde a língua ainda é falada atualmente. Migrações internas sob o regime fascista também enviaram muitos falantes de veneto para outras regiões da Itália. 
(Dialeto Veneto falado em Treviso hoje)

VênetoPortuguêsItalianoOrigem da palavra vêneta
bèvar, trincàrbeberberebibere (latim), trinken (alemão)
bècapicantepicante?
bisatoenguiaanguilla?
butàrarremessargettarebautan (gótico)
cantónesquinaangolo?
caréga, tróncadeirasediacathedraticum, thronus (latim) com origem no (grego)
casgàr, croar xòcaircaderede cadere (latim) transformado em verbo
coquando (em orações não interrogativas)quandocum (latim)
copàrmataruccidereoccupare? (latim)
doxe (doge)dogeducedux (latim)
fiólfilhofigliofilius, filiolus (latim)
gòtocopo de bebidabicchiere?
insìasaídauscitain + exita (latim)
magnàrcomermangiaremanducare (latim)
mammamãemadremater (latim)
mieuiome (latim)
morsegàrmordermorderede morsus de mordere (latim) transformado em verbo
mostacibigodesbaffi?
munìngatogattotalvez do som do "miado" do gato
musasnoasino?
nòtoła, barbastrìo, signàpołamorcegopipistrello?
òcioolho, cuidado!occhioocculus (latim)
oxèłopássarouccelloavicellus (latim)
pantegànratoratto?
piróngarfoforchettapiro? (grego)
plàstegaplásticoplasticaplastikos (grego)
pomo/pónmaçãmelapomus (latim)
réciaorelhaorecchioauriculum (latim)
sghiràtesquiloscoiattolo?
sgnapebebida alcoólicaliquoreschnapps (alemão)
supiar, fis-ciarassobiarfischiaresub + flare (latim)
tiòr su, ciaparlevantar, erguerprendere, chiapparetollere, captulare? (latim)
uncuò, 'ncòhojeoggihunc + hodie (latim)
vacavacamuccavaca (latim)
vardarolharguardarewarten (gótico)
(Fonte: Wikipedia)


Mapa das línguas e dialetos falados na Itália de hoje.

Capítulo 17 - A diáspora de Fruteiras - filhos e netos de Luigi Erminio

Conforme lemos no Capítulo 16, do casal veneto Luigi Erminio Zavarise e Maria Luigia Dassie nasceram 9 filhos.

Estes nove filhos constituíram famílias com outras famílias italianas no ES e partiram de São José de Fruteiras para outros municípios capixabas, sobretudo no norte do estado, e até para outros estados do Brasil. Uma verdadeira diáspora semelhante àquela da grande casa Zavarise, em Cornuda, contada nos Capítulos 08, 09 e 10.

A diáspora foi tamanha, que hoje em Fruteiras, até onde conseguimos localizar, só resta um neto dos primeiros italianos: Leonídio José, filho de Hermínio Zavarise. Este sim, já com muitos netos e bisnetos. 

Dos filhos de Luigi e Maria, a saber:

1) Agostino Antônio Zavarise - 

Nascido no distrito de Matilde (Alfredo Chaves), em 07 de maio de 1900, casou-se com Antonina Fuser (filha dos italianos Pasquale Fuser e Salute Callegari) em 04 de dezembro de 1922, no distrito de Jaciguá. 
Em S. José de Fruteiras nasceram-lhes os filhos: Antônio, Domingos, Maurílio, Florentino, Tranquilo, José, Ana Maria e Agostino. 
Migraram todos para Nova Venécia em Janeiro de 1950. 
Faleceu em 24/01/1978, viúvo de Antonina Fuser desde 13/08/1962. 

2) Antonio Zavarise -

Casou-se com Maria Bergamin.
Tiveram 6 filhos: Germano, José, Geraldo, Antenor, Eugênia (Generosa) e Euzília.  

3) Hermínio Zavarise -

Casou-se com Pimica Salaroli e tiveram 3 filhos: Leonídio José, Aderaldo Arlindo e Berenice. 
Leonídio e família são os únicos Zavarise que ainda vivem em S.J. de Fruteiras e foi quem herdou a terra  dos pais. 
Aderaldo mudou-se jovem para o Rio de Janeiro e lá se casou com Darcymar de Castro Vianna, com quem teve 3 filhos: Isabel Cristina, Marcos Vinícius e Marco Aurélio.

4) Ernesto Zavarise - 

5) Adélia Zavarise - 

6) Theresa Zavarise - 

7) Irene Zavarise - 

Casou-se com Aristides Bassini (neto dos italianos Ernesto Bassini Filho e Maria Bravin) e tiveram os filhos: Ailton, Pedro, Sebastião e Antônio José.

8) Rosa Zavarise - 

9) Santina Zavarise - 

*Pedimos aos descendentes destes 9 filhos de Luigi Erminio Zavarise e Maria Luigia Dassie que nos enviem o máximo de informações possíveis sobre os mesmos, bem como fotografias existentes dos filhos do casal, a fim de completarmos o enredo. 

Email: zavarisecapixabas@gmail.com

Capítulo 16 - Luigi Erminio Zavarise - o primeiro patriarca

Em 18 de abril de 1877 nasce em Cornuda, Treviso, Luigi Erminio Zavarise. Caçula e único filho homem de Agostino di Bortolo Zavarise e Irene Moretto.

Luigi Erminio chega ao Brasil com apenas 2 anos de idade e cresce num povoado chamado Iracema, próximo ao distrito de Matilde, no município de Alfredo Chaves - ES. 


Ainda neste lugar, Luigi Erminio se casa com Maria Luigia Dassie em 11 de fevereiro de 1889, no distrito de Matilde. Ambos aos 21 anos de idade.

Maria Luigia Dassie vinha também de Treviso, e era filha de Giovanni Dassie e Maria Teresa Zecchella. No Arquivo Público do ES, consta que sua mãe se chamava Maria Teresa Perin, diferentemente do que dizem os documentos nos cartórios e também a tradição da família. Maria Luigia Dassie tinha apenas um irmão mais velho, Bortolo Dassie, que chegara ao Brasil aos 7 anos de idade.

Tanto Luigi Erminio quanto Maria Luigia partiram do porto de Genova em Dezembro de 1879, no navio Hohenzollern, aos 2 anos de idade, desembarcaram no Rio de Janeiro, e chegaram ao porto de Anchieta - ES no dia 17 de janeiro de 1880, à bordo de um navio menor, chamado Presidente. 

Eram conterrâneos, tinham a mesma idade, imigraram ambos nos braços dos pais. Cresceram juntos e se casaram em terras capixabas.

- Os filhos capixabas; a primeira geração de brasileiros - 

Um ano após o casamento de Luigi Erminio e Maria Luigia, nasce-lhes o primeiro filho do casal: Agostino Antonio Zavarise (em 07 de maio de 1900), no povoado de Iracema. 

Nos anos seguintes nasceriam-lhes os demais, totalizando 9 filhos: Antonio, Hermínio, Ernesto, Adélia, Theresa, Irene, Rosa e Santina.

Cachoeira de Iracema, no distrito de Matilde, município de Alfredo Chaves-ES. Primeira residência dos Zavarise no ES.
- De Iracema para Jaciguá (chamada Virgínia até 1910) -

Em algum momento entre 1900 e 1922, toda a família Zavarise, se muda para para o distrito de Jaciguá, que na época pertencia a de Cachoeiro do Itapemirim (hoje pertence a Vargem Alta).

Em Jaciguá, uma de suas filhas (não se sabe se Anna ou Agata) se casa, em idade avançada para época, com o viúvo Giovanni Altoé.

Também em Jaciguá, alguns dos filhos de Luigi Erminio e Maria Luigia Dassie se casam com filhas e filhos de outras família italianas. 
Jaciguá (antiga Virgínia), em 1910. Já havia a estação ferroviária.
Jaciguá hoje, distrito de Vargem Alta-ES.
- A fundação de São José de Fruteiras - 

O pequeno povoado de São José de Fruteiras nasce da bravura de alguns italianos que haviam imigrado ainda crianças para o ES. Entre estes estavam Luigi Erminio Zavarise, sua esposa Maria Luigia Dassie, e seus 9 filhos, saídos de Jaciguá para uma propriedade à beira do Córrego Capivara, no atual distrito de S. José de Fruteiras.

- A morte dos italianos - 

Maria Luigia Dassie, falece primeiramente: em 24 de maio de 1945, aos 68 anos.

Luigi Erminio Zavarise falece em 02 de novembro de 1948, aos 71 anos.

Ambos estão enterrados no cemitério do distrito de São José de Fruteiras, município de Vargem Alta.

Os italianos, de Treviso (Veneto), LUIGI ERMINIO ZAVARISE e sua esposa MARIA LUIGIA DASSIE.

Capítulo 15 - Os 3 filhos italianos de Agostino e Irene

Como citado no Capítulo 14, o casal Agostino di Bortolo Zavarise e Irene Moretto chega ao Espírito Santo  em 17 de Janeiro de 1880 trazendo seus 3 filhos, todos em nascidos em Cornuda - Treviso. Eram eles:

- Agata (Moretto) Zavarise - então com 12 anos;

- Anna (Moretto) Zavarise - com 7 anos; e o único filho

- Luigi Erminio (Moretto) Zavarise - com 2 anos - nascido em 18 de abril de 1877, às 13:05. 

Certidão de nascimento de LUIGI ERMINIO ZAVARISE, único filho de Agostino Zavarise e Irene Moretto.
- As filhas - 

Até a presente data, não conseguimos rastrear o destino correto das filhas do casal.  Boa parte devido ao costume, preservado no ES, de não se dar o sobrenome materno aos filhos. E também ao fato das esposas acompanharem as famílias dos maridos.

Mas um fato curioso se dá com uma dessas irmãs: 

Um jovem chamado Giovanni Altoé, nascido em Cordignano - Treviso, chega ao ES com 16 anos juntamente com seus pais Angelo Altoé e Giovanna Covre. Esta família imigra no mesmo navio que os Zavarise e chegam juntos ao mesmo destino e na mesma data (17/01/1880). 

Giovanni Altoé se casa, em 1886, no distrito de Matilde, município de Alfredo  Chaves, com sua conterrânea Mariana Zanette, com quem teve 12 filhos. 

Acontece que, 19 dias após o nascimento do último filho do casal (Andre), Mariana Zanette vem a falecer, deixando Giovanni Altoé viúvo com seus 12 filhos para criar.

7 meses depois da morte de D. Mariana, Giovanni se casa pela segunda vez com "Maria" Zavarise (como consta nos documentos dos cartórios), em 24 de agosto de 1906, no distrito de Jaciguá (então pertencente a Cachoeiro do Itapemirim). Giovanni e "Maria" têm ainda mais dois filhos: Hermíno e Eurico.

Esta "Maria" Zavarise era filha de Agostino Zavarise e Irene Moretto. Seu falecimento se deu no distrito de Jaciguá, no dia 03 de outubro de 1949.

Não descobrimos ainda se esta "Maria" Zavarise era na verdade a filha Agata ou a Anna. 

Se "Maria" foi na verdade Agata, ela se casou aos 38 anos e ainda teve 2 filhos. (pouco provável)

Mas se esta "Maria" (conforme os cartórios) era na verdade Anna, esta se casou com Giovanni Altoé aos 33 anos de idade e teve 2 filhos. (parece mais provável) 

- A continuação do sobrenome Zavarise -

Como se sabe, somente os filhos homens dariam continuidade aos sobrenomes paternos.

No caso da família de Agostino e Irene, o único filho, Luigi Erminio, é quem deu então seguimento à transmissão do sobrenome Zavarise a seus descendentes. 

Assim, LUIGI ERMINO ZAVARISE é o primeiro patriarca italiano dos Zavarise capixabas, e brasileiros. 

Luigi Erminio se casa, em Matilde (ES), com Maria Luigia Dassie, sua conterrânea. 


(Luigi Erminio Zavarise e Maria Luigia Dassie)

Em 1892 chegaria outra família Zavarise, de Cornuda, ao Espírito Santo.

Capítulo 14 - 1880: A primeira família Zavarise no ES

AGOSTINO ZAVARISE e IRENE MORETTO


Ambos nascidos e casados em Cornuda, província de Treviso, na região do Veneto, nordeste da Itália.

Em Cornuda nasceram também seus três  filhos.

Em Dezembro de 1879 parte do porto de Genova a primeira família Zavarise com destino ao ES:

- Agostino di Bortolo Zavarise, com 45 anos; sua esposa:

- Irene Moretto, com 35 anos; e seus três filhos:

- Agata, com 12 anos;
- Anna, com 7 anos; e
- Luigi Erminio, com 2 anos.

No porto de Genova tomam o navio à vapor Hohenzollern, fabricado na Alemanha em 1867, rumo ao Brasil, deixando tudo e todos para trás, numa viagem paga pelo governo brasileiro. Havia, ao todo, 1.317 italianos neste navio.

Hohenzollern, navio à vapor usado em 1879 pela La Veloce, companhia de imigração contratada pelo governo brasileiro para trazer imigrantes italianos.
Cruzaram o Atlântico numa viagem que durava cerca de 25 dias e chegaram ao Rio de Janeiro (então capital do Brasil) em 12 de Janeiro de 1880. Durante a viagem morreram 14 pessoas à bordo. Há registros no porto do RJ de que os imigrantes reclamaram que  haviam sido muito mal tratados durante a viagem.

Do porto do Rio de Janeiro tomam um outro navio pequeno, chamado Presidente, rumo ao Espírito Santo.

Cinco dias depois, em 17 de Janeiro de 1880, estava esta família no porto do Rio Benevente, atual cidade de Anchieta.

Sobem o Rio Benevente acima. O destino: o pequeno povoado de Iracema, distrito de Matilde, município de Alfredo Chaves, no Núcleo Colonial Castello. Este núcleo era o sexto, criado em 1879 pelo governo provincial.

As serras capixabas da região de Alfredo Chaves e Vargem Alta. Destino da família de Agostino Zavarise, em 1880.

Estação Ferroviária do distrito de Matilde, município de Alfredo Chaves. Por onde chegariam as famílias italianas.

Estação Ferroviária do distrito de Matilde, município de Alfredo Chaves. Por onde chegariam as famílias italianas.

Capítulo 13 - O Espírito Santo como destino


O Espírito Santo abriga uma das maiores colônias italianas do Brasil. Os imigrantes foram atraídos para o Estado a fim de ocupar inicialmente a região das serras. Os imigrantes foram obrigados a enfrentar a mata virgem e foram abandonados pelo governo à própria sorte. A situação de miséria vivida por muitos colonos fez com que, em 1895, o governo italiano proibisse a emigração de seus cidadãos para o Espírito Santo.

Entre 1812 e 1900, entraram no estado do Espírito Santo 43.929 imigrantes, dos quais 32.900 eram italianos, ou seja, 75% do total. Após o ano de 1900, pouquíssimos italianos ainda entraram no estado. Cerca de 93% dos imigrantes italianos que foram para o estado provinham de regiões do Norte da Itália. Cerca de 40% eram provenientes da região do Vêneto, 20% da Lombardia, 14% do Trentino-Alto Ádige, 10% da Emília-Romanha, 5% do Piemonte, 4% do Friul-Veneza Júlia, 2% das Marcas e 2% de Abruzos, 1% da Toscana e 1% de Campânia e outro por cento de outras regiões.

Algumas fontes afirmam que 60% da população do Espírito Santo é formada por descendentes de italianos. A historiadora Maria Cristina Dadalto critica essa informação que, segundo ela, é um "mito". Não existe nenhuma pesquisa que comprove esse dado, mas "uma profícua produção literária produzida sobre a imigração italiana no estado ajudou a construir e a fortalecer este mito".

Do Vêneto, as províncias que mais mandaram imigrantes para o estado foram Treviso (31%) e Verona (28%).

(Fonte: wikipedia)

Capítulo 12 - A grande imigração Veneta

(A Região do Vêneto e suas 7 Províncias)
O Vêneto constituiu, por um longo período, a região que mais expulsou imigrantes em direção ao Brasil, principalmente no período entre 1887 e 1895. Neste interregno de apenas oito anos, desembarcaram nos portos brasileiros 246.168 pessoas do Vêneto e do Friul, perfazendo 50% de todos os italianos que lá chegaram.

As famílias vênetas eram constituídas, em média, de 12 a 15 pessoas, que viviam em torno de um pequeno núcleo do qual eram proprietários ou trabalhavam na forma de meeiros em terras de terceiros. Essencialmente agrícola, o Vêneto era uma das regiões mais pobres e atrasadas de toda a Itália. Até 1885, os vênetos que foram para o Brasil não eram camponeses destituídos de qualquer capital, mas, sobretudo viviam como meeiros, pequenos proprietários e arrendatários. Só emigravam quando as suas propriedades já não ofereciam a quantidade de gêneros suficientes à sua subsistência.

Ao retratar o Vêneto oitocentista, região italiana de onde veio 30% dos imigrantes italianos no Brasil, o historiador Emilio Franzina escreveu que "podia-se morrer de inanição e que a única alimentação da classe rural não passava de polenta, uma vez que a carne de vaca era um mito e o pão de farinha de trigo inacessível pelo seu alto preço". 
Polenta sobre o "fondal" 
Os vênetos rumaram tanto para os núcleos coloniais do Sul do Brasil quanto para as fazendas de café. A cidade não era o seu objetivo e, quando nela terminavam, era por total falta de opção, quando a proletarização se mostrava a única alternativa. Imigravam preferencialmente com a família, trazendo esposa e filhos, o que demonstrava a sua intenção, a priori, de se fixar em definitivo no Brasil.

Bandeira Veneta e suas 7 Províncias


(Fonte: wikipedia)

Capítulo 11 - A imigração italiana para o Brasil

A imigração italiana no Brasil teve como ápice o período entre 1880 e 1930.

O século XIX foi marcado por uma intensa expulsão demográfica na Europa. O alto crescimento da população, ao lado do acelerado processo de industrialização, afetaram diretamente as oportunidades de emprego naquele continente. Estima-se que, entre 1870 e 1970, em torno de 28 milhões de italianos emigraram (aproximadamente a metade da população da Itália). Entre os destinos principais estavam diversos países da Europa, América do Norte e América do Sul.

Não apenas a população da Itália, mas de toda a Europa de um modo geral estava afundada na miséria no século XIX. A transição entre um modelo de produção feudal para um sistema capitalista afetou diretamente as condições sociais no continente europeu. As terras ficaram concentradas nas mãos de poucos proprietários, havia altas taxas de impostos sobre a propriedade, fazendo o pequeno proprietário se endividar com empréstimos. Havia a concorrência desigual com as grandes propriedades rurais, que fazia o preço dos produtos do pequeno proprietário ficar muito baixos, empurrando essa mão-de-obra para as indústrias nascentes, que não conseguiam absorver essa massa de trabalhadores, saturando as cidades com desempregados. À medida que a disputa pelos mercados consumidores se acirrou, a concentração de terras nas mãos de poucos se agravou. Assim, milhões de camponeses, que antes eram pequenos proprietários rurais, desceram à condição de trabalhadores braçais nas grandes propriedades rurais. Mesmo aqueles que continuaram na condição de pequenos proprietários não conseguiam mais tirar seu sustento da terra. Isto porque as terras eram normalmente adquiridas por herança, e o filho mais velho adquiria a propriedade após a morte do pai, enquanto os outros filhos eram excluídos. Mesmo quando as terras eram divididas entre os filhos, o fracionamento acarretava no recebimento de um pedaço de terra muito pequeno, tornando impossível dali extrair o sustento.

No século XIX, a população europeia cresceu duas vezes e meia, agravando ainda mais os problemas sociais naquele continente. A fome e a miséria assolavam a Europa. O camponês europeu nutria grande amor pelo seu pedaço de terra e toda a sua existência girava em torno da manutenção da sua propriedade. O seu mundo não ia além da comunidade a qual pertencia e seu ideal econômico era a autossuficiência. O continente americano aparece, nesse contexto, como um destino sonhado por milhões de europeus, que imigravam com a promessa de se tornarem grandes proprietários agrícolas.

Foi assim que milhões de camponeses europeus, que não conheciam nada além do seu vilarejo de origem, tornaram-se emigrantes. Primeiramente, buscaram trabalho nas cidades. Em seguida, nos países vizinhos, numa migração sazonal quando a demanda por mão-de-obra aumentava, como em época de colheitas. Depois, regressavam para casa. Quando essas alternativas já não surtiam mais efeito, buscaram a emigração transoceânica, sobretudo para os países das Américas. Estados Unidos, Canadá e Argentina eram países que tinham a capacidade de atrair grande número de imigrantes espontâneos. O Brasil, por sua vez, teve que apelar para uma migração subvencionada, na qual o próprio governo brasileiro pagava a passagem dos imigrantes. Do fim das Guerras Napoleônicas até a década de 1930, 60 milhões de europeus emigraram. Destes, 71% foram para a América do Norte, 21% para a América Latina (sobretudo Argentina e Brasil) e 7% para a Austrália. Nota-se que a nacionalidade que mais imigrou para a América Latina foi a italiana, superando os espanhóis e os portugueses. Dos 11 milhões de imigrantes que foram para a América Latina, 38% eram italianos, 28% eram espanhóis e 11% eram portugueses.

- O Brasil como destino -

A política imigratória brasileira teve duas vertentes: uma era atrair imigrantes e fazer deles proprietários rurais e a outra focava em simplesmente obter braços para as lavouras de café. Em consequência, os imigrantes podiam optar entre rumar para os núcleos coloniais ou para as fazendas. 

Os núcleos coloniais apenas vigoraram nas regiões onde não havia plantações de café, uma vez que, nas regiões cafeeiras, as terras disponíveis à colonização eram escassas e marginais. Ademais, a formação de novos núcleos coloniais dependia da autorização do parlamento, e os representantes impunham obstáculos ao fluxo exagerado de imigrantes para as colônias, visando garantir o fluxo da mão de obra necessária para as fazendas de café. Isso, todavia, não impediu a formação de núcleos coloniais onde havia plantações de café, desde que aqueles não fizessem concorrência com estes.

Para atrair imigrantes, o governo efetuava contratos com empresas ou particulares. O mais famoso foi o firmado entre o governo federal e a Companhia Metropolitana, que pretendia trazer um milhão de imigrantes ao Brasil num espaço de dez anos. Embora essa meta não tenha sido alcançada, não eram raros os contratos que estipulavam a vinda de 50 ou 60 mil imigrantes. Em 1894, os serviços de imigração foram transferidos do governo federal para os estados-membros. Apenas os estados mais ricos, como São Paulo, puderam prosseguir na política de imigração, em consequência. A passagem gratuita de navio oferecida pelo governo brasileiro surtiu grande efeito na Itália. A imigração subsidiada deu a oportunidade para que milhares de camponeses e lavradores assalariados, que dificilmente conseguiriam dinheiro para pagar suas próprias passagens, pudessem fazer a viagem migratória. A imigração subvencionada constituiu, em São Paulo, 89% da imigração total entre 1891 e 1895. Embora o governo estipulasse que apenas agricultores aptos ao trabalho deveriam ser recrutados para imigrarem para o Brasil, na prática os agentes e subagentes contratados na Europa para atrair imigrantes recrutavam qualquer um. Isso acarretava em litígios logo na chegada, uma vez que no meio dos jovens camponeses também chegavam velhos, crianças de peito e mulheres em gravidez avançada. Os problemas não paravam por aí, uma vez que era comum que imigrantes fossem forçados a pagar a sua passagem, mesmo quando tinham direito à passagem gratuita. Os agentes de emigração foram os grandes responsáveis pela vinda em massa de italianos para o Brasil. 

Em 1892, existiam na Itália 30 agências de emigração e 5.172 subagentes que perambulavam pelo país persuadindo as pessoas a irem para o Brasil. Em 1895, o número de agências havia crescido para 33 e o de agentes para 7.169. Os agentes eram contratados pelas companhias de imigração e eram conhecidos pela sua falta de honestidade. Passavam pelas aldeias nos dias de feira ou mercado, vendendo uma ideia positiva do Brasil, dizendo que era o país do ganho assegurado e onde a propriedade rural estava ao alcance da mão. A companhia de imigração La Veloce pagava entre 5 e 25 dólares para o agente que conseguisse convencer uma família a imigrar para o Brasil.

A imprensa da época comparava os agentes aos traficantes de escravos. As aldeias eram inundadas com panfletos e cartas falsificadas de emigrantes que já tinham partido. Porém, muitas vezes essas estratégias não eram suficientes uma vez que, mesmo premidos pela miséria e sendo persuadidos a imigrarem para um país de "ganho assegurado", também era necessário que quem estivesse acenando a possibilidade de emigração fosse uma pessoa que ocupasse um papel na sociedade para oferecer um mínimo de garantias. Nestes casos, eram os próprios prefeitos e vigários e, sobretudo, os secretários municipais e os mestres-escolas que estimulavam as pessoas a emigrar.

Depois de decidirem imigrar para o Brasil, quase sempre após terem sido persuadidos pelos agentes e subagentes de imigração, a próxima etapa era a viagem migratória. O primeiro desafio era chegar até o porto de embarque. No caso do Norte, era o porto de Gênova e, no Sul, o porto de Nápoles. A ida até o porto, que às vezes era feita a pé, inclusive no inverno, envolvia aldeias inteiras. Antes de partir, vendiam os poucos bens que possuíam. Frequentemente chegavam ao porto vários dias antes do embarque, por má-fé dos agentes, mancomunados com taberneiros e estalajadeiros, que tratavam de abusar dos preços.

Uma vez dentro do navio, os imigrantes tinham que enfrentar uma viagem naval terrível, com duração entre 21 a 30 dias, amontoados no navio como passageiros de terceira classe. Não eram raros os envenenamentos por comida estragada, mortes por epidemias e ondas de furtos. Em 1888, em dois navios que transportavam imigrantes para o Brasil, o Matteo Bruzzo e o Carlo Raggio, 52 pessoas morreram de fome e, em 1899, no Frisca, 24 morreram por asfixia.

Ao chegarem ao porto brasileiro, se encantavam com o verde intenso da natureza exuberante do país e estranhavam os homens e mulheres de pele escura que perambulavam pelo porto, os quais os italianos nunca tinham visto em seu país de origem. Encaminhados para as fazendas, muitos imigrantes tiveram que enfrentar uma vida de semiescravidão nas plantações de café, bem diferente dos relatos de paraíso vendido pelos agentes que os persuadiram a abandonar a Itália.


Apenas seis estados brasileiros concentraram a quase totalidade da imigração italiana no Brasil. Eles foram, em ordem de importância, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo, Santa Catarina e Paraná. O estado de São Paulo foi, de longe, aquele que mais recebeu imigrantes no Brasil. Dos cerca de 1,5 milhão de italianos que imigraram para o Brasil entre os anos de 1875 e 1935, 1,2 milhão deles foram para São Paulo, 100 mil para o Rio Grande do Sul, 60 mil para Minas Gerais, 25 mil para o Espírito Santo, 25 mil para Santa Catarina e 20 mil para o Paraná.

São Paulo e Minas Gerais tiveram uma política imigratória muito semelhante: atrair italianos para substituírem os escravos como mão de obra nas fazendas de café. Os outros estados, por outro lado, atraíam imigrantes visando convertê-los em pequenos proprietários agrícolas, como foi o caso do Espírito Santo.

(Fonte: Wikipedia)