![]() |
Mi, ancora un ceo |
- Mãinha, eu sou descendente de que? - eu, com uns 7 anos de idade.
- De italianos, meu filho. Por quê?
- A minha professora perguntou por que meu sobrenome era diferente dos meus colegas. A senhora fala italiano?
- Só me lembro de umas poucas palavras usadas na cozinha: piròn, cortèo, cuciaro, buro, formai . . .
Lembro-me deste diálogo como se fosse agora: a minha mãe dirigindo, levando-nos a casa num fim de tarde em Itamaraju.
Desde aquele dia não parei de acumular informações sobre este sobrenome tão diferente dos meus conterrâneos. Desde que aprendi a ler, soletrá-lo tornou-se parte de minha rotina (Z de zebra, A de água, V de Vera, A de água, R de rua, I de igreja, S de sapato, E de elefante), e explicar a sua origem e o porquê do meu fenótipo ser diferente da maioria dos baianos.
Nascer e crescer num lugar com uma cultura tão forte como a Bahia e trazer consigo as marcas das tribos do Vêneto e da Romagna é ser predestinado à diversidade. É como ter dois rios correndo dentro de si, às vezes em paralelo, outras vezes misturando as suas águas, e em outras correndo em sentidos opostos. É como ser ambidestro.
Dedico este "livro" virtual a quem me ensinou tudo: o amor a Deus e ao Seu Filho, o valor do trabalho incansável, do estudo, da palavra proferida, da boa comida, da amizade carinhosa dos mais velhos, da alegria de se ver e de se ter uma família reunida e unida, apesar da dor. Ensinou-me o prazer de se morar bem, a sacralidade que é a própria casa, a poesia que há em "Meu pé de laranja lima", o primeiro livro que leu. Aprendi que o anjo da guarda não acompanha a criança que se levanta da cama e não a arruma, que automedicação às vezes funciona melhor do que muitos médicos, que um objeto velho e usado pode ser útil novamente se for bem guardado, que música só presta se for bem executada e tiver boa letra, que os livros têm perfume. Com ela, aprendi tudo que precisava para voar pelo mundo.
Ficar-me-á selada para sempre a lição de que é possível atravessar a dor e a decepção sem se perder o valor, o brio e a honra. De que a lágrima é solitária e privada, mas o sorriso pertence ao público. E de que medos, desafios e dificuldades não significam absolutamente nada para quem traz no sangue a coragem milenar de um sonho migrante.
Ficar-me-á selada para sempre a lição de que é possível atravessar a dor e a decepção sem se perder o valor, o brio e a honra. De que a lágrima é solitária e privada, mas o sorriso pertence ao público. E de que medos, desafios e dificuldades não significam absolutamente nada para quem traz no sangue a coragem milenar de um sonho migrante.
Par mea mare, ła pi bèła tòsa che ghe zera in sità.
0 comentários:
Postar um comentário