Capítulo 23 - Dedicatória do autor do blog


- Mãinha, eu sou descendente de que? - eu, com uns 7 anos de idade.
- De italianos. Por quê? 
- A minha professora perguntou por que meu sobrenome era diferente. A senhora fala italiano?
- Só me lembro de umas palavras usadas na cozinha: piròn,  cortèo, cuciaro, burro, formai . . .

Lembro-me deste diálogo como se fosse agora: minha mãe dirigindo, nos levando para casa num fim de tarde.

Desde aquele dia eu não parei mais de acumular informações sobre este sobrenome tão diferente dos meus conterrâneos. Desde que aprendi a ler, soletrá-lo se tornou parte de minha rotina. E explicar sua origem e o porquê de meus traços físicos também. 

Nascer e crescer num lugar de cultura tão forte como a Bahia e trazer consigo as marcas do Vêneto é ser predestinado à diversidade. É ter dois rios correndo dentro de si, às vezes em paralelo, outras vezes misturando suas águas. É como ser ambidestro.

Dedico este "livro" virtual a quem me ensinou tudo: o amor a Deus e a Seu Filho, o valor do trabalho, do estudo, da palavra dita, da boa comida, da amizade carinhosa dos mais velhos, da alegria de ver a família reunida. Ensinou-me o prazer de se morar bem, a poesia que há em "Meu pé de laranja lima", o primeiro livro que leu. Aprendi que o anjo da guarda não acompanha a criança que se levanta da cama e não a arruma, que automedicação às vezes funciona melhor do que muitos médicos, que um objeto velho e usado pode ser útil novamente se for bem  guardado, que música só presta se for bem executada e tiver boa letra, que os livros têm perfume. 

Ficará para sempre em mim a lição de que é possível atravessar a dor e a decepção sem se perder o valor, o brio, a honra. E que medos, desafios e dificuldades não significam absolutamente nada para quem traz no sangue a coragem de um sonho imigrante. 

Par mea mare, la pi bèla tòsa in sità.

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