Capítulo 20 - Uma viagem a Cornuda em 1997


Era o ano de 1995 quando comecei a ter acesso à internet e a reunir informações e documentos sobre os meus antepassados. O objetivo inicial era requerer a minha cidadania italiana junto ao Consulado, como o fiz em 2002. 

Entre uma pesquisa e outra consegui entrar em contato com alguns Zavarise em Cornuda, tentando usar de bastante cautela para não lhes ser inconveniente e inoportuno pois sabia de outros brasileiros que haviam feito o mesmo mas não foram bem recebidos na Itália. 

Em 1997 fui pela primeira vez à Itália e pude conhecer todo o Veneto, as suas capitais de Províncias e, claro, não poderia deixar de ir até a pequena Cornuda, no interior de Treviso, parte das colinas do Prosecco, hoje Patrimônico da UNESCO. 

Até hoje, quando visito os meus arquivos afetivos, gosto de passear pelas minhas memórias em busca daquela primeira impressão. Emoções que uma filmadora (em VHS, na época) nunca conseguirá transmitir: pegar o trem em Padova, fazer baldeação em Montebelluna, descer na estação de Cornuda e deixar que o trem siga a sua jornada final até Levada e Calalzo antes de retornar.

Andar por Cornuda, sentir a sua brisa no rosto, contemplar aquela arquitetura centenária, a suas colinas, encontrar a velha casa Zavarise, mirar cada rosto nas ruas e ver meus traços contidos ali naquele povo. . . a sensação de ser igual, comum, apenas mais um . . . fez-me como uma árvore sugando a seiva do primeiro chão, uma gota d´água regressada à sua fonte, um feto que volta ao ventre da sua mãe. 

Então aos 22 anos de idade, era eu o primeiro descendente de Luigi Erminio Zavarise a pisar o seu solo natal 117 anos após a sua partida. Era um êxodo às avessas. 

Como desejei naquela hora que ele fosse ainda vivo e saudável para que tivéssemos juntos o prazer de ver aquela linda cidadezinha de onde partira aos 2 anos, nos braços da sua mãe Irene. Na minha mente sonhadora, eu fantasiava a sua voz dizendo aos locais: "Mi son fiol di Zavarise Agostino Zavarise. Son anca di Trevis, son Cornudese! Mi piase magnar polenta con formai, i crostoi." 

Agradeço aos parentes queridos que me receberam com tanto carinho: Giorgio, Guido, Livio, Fernanda, o lendário Rigo, patrimônio folclórico de Cornuda, e também Enzo e Ivano.


(Filmagens de minha viagem a Cornuda em 1997 e visita a alguns Zavarise locais)

Que privilégio quando, entre 2017 e 2021, pude viver no Veneto e frequentar e regressar tantas vezes à minha pequena e tão linda Cornuda. 


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