(Dialeto Veneto rústico, chamado de Talian, preservado em cidades do ES)
Ainda hoje alguns dos netos dos primeiros Zavarise falam este "talian". Um verdadeiro fóssil linguístico preservado nas terras capixabas, mas já bastante influenciado pelo português.
O talian é a segunda língua mais falada no Brasil, depois do português e foi oficialmente reconhecida pelo Governo Federal como uma das línguas minoritárias do Brasil em 2014. Muito comum nos estados do ES, RS, SC e PR. No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina ela é declarada oficialmente como Patrimônio Cultural.
Este antigo dialeto veneto rústico não é mais falado da mesma forma em Cornuda e vizinhança há mais
de 50 anos. Ainda se fala o dialeto veneto por lá, mas este sofreu alterações ao longo do tempo e se modernizou por influência da urbanização, do avanço nas comunicações e da alfabetização em massa na língua italiana clássica (o língua toscana de Florença/Firenze).
A língua veneta é uma língua das milhares de línguas e dialetos neolatinos falado por cerca de 5 milhões de pessoas. Ainda que geralmente referido como sendo um dialeto italiano, ele mostra notáveis diferenças estruturais do italiano clássico, o chamado tosco-italiano.
Exemplos da influência do português no Talian
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Palavra no Talian
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Palavra no veneto original
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Palavra no Italiano padrão
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Palavra em Português
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Bolo
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Torta
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Torta, dolce
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Bolo
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Caro, auto
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Macchina, auto
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Macchina, auto
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Carro
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Coraçon
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Cor, core
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Cuore
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Coração
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Galignero
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Punaro ou punèr
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Pollaio
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Galinheiro
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Garafa
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Botiglia
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Bottiglia
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Garrafa
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Inton, alora
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Alora
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Allora
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Então
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Praia
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Spiaia
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Spiaggia
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Praia
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Sapatero, scarpèr
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Caleghèr ou scaporlin
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Calzolaio
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Sapateiro
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Sià, scià
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Tè
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Tè
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Chá
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Simarón, Scimarón
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-
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-
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Chimarrão
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Sorasco, chorasco
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-
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-
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Churrasco
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Verón
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Istá
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Estate
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Verão
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Como non!
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Certo! Certamente! Sicuramente!
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Certo! Certamente! Sicuramente!
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Como não!
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(Uma filha de trevisanos, em Venda Nova do Imigrante - ES, falando talian)
A língua veneta é uma língua das milhares de línguas e dialetos neolatinos falado por cerca de 5 milhões de pessoas. Ainda que geralmente referido como sendo um dialeto italiano, ele mostra notáveis diferenças estruturais do italiano clássico, o chamado tosco-italiano.
Em 28 de março de 2007, o Conselho Regional do Vêneto oficialmente reconheceu a existência da língua veneta (Łéngoa Vèneta).
O veneto descende do latim vulgar, possivelmente influenciado pelo
substrato venético (língua falada no Veneto no séc VI a.c., já
extinta) e pelas línguas dos bárbaros
germânicos (visigodos, ostrogodos, hunos e lombardos) que
invadiram o norte da Itália no século V. Os mais antigos textos que
podem ser reconhecidos como veneto datam do século XIII.
Como língua literária, o veneto foi ofuscado pela língua toscana de Dante Alighieri. Após o fim da República Sereníssima de Veneza (1797), o dialeto veneto gradualmente parou de ser usado com finalidades administrativas; e
quando a Itália foi unificada no século XIX, a língua
toscana foi imposta como língua nacional da Itália. Atualmente, na prática, todos os seus falantes
são bilíngues, e usam os seus dialetos locais apenas em contextos informais.
Por outro lado, esta língua e os seus inúmeros dialetos espalharam-se pelo mundo com a forte
emigração dos seus falantes entre 1870 e 1905. Esses migrantes criaram
grandes comunidades na Argentina, Brasil, México e Romênia,
onde a língua ainda é falada até os dias de hoje. Migrações internas sob o regime fascista
também enviaram muitos dos seus falantes para outras regiões da Itália.
Hoje há um grande esforço no Veneto para o resgate e a manutenção desta língua e dos seus vários dialetos, que estão a morrer junto com os seus falantes mais idosos, uma vez que poucos jovens ainda querem usá-lo. Após o Fascismo, foi plantada na mente dos italianos a ideia de que falar as línguas locais e regionais era algo feio, de menor valor, vergonhoso e coisa de quem tenha pouca instrução. A imposição da língua italiana causa assim um genocídio de línguas milenares, filhas da antiga Roma.
(Veneto falado em Treviso hoje)
Vêneto | Português | Italiano | Origem da palavra vêneta |
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bèvar, trincàr | beber | bere | bibere (latim), trinken (alemão) |
bèca | picante | picante | ? |
bisato | enguia | anguilla | ? |
butàr | arremessar | gettare | bautan (gótico) |
cantón | esquina | angolo | ? |
caréga, trón | cadeira | sedia | cathedraticum, thronus (latim) com origem no (grego) |
casgàr, croar xò | cair | cadere | de cadere (latim) transformado em verbo |
co | quando (em orações não interrogativas) | quando | cum (latim) |
copàr | matar | uccidere | occupare? (latim) |
doxe (doge) | doge | duce | dux (latim) |
fiól | filho | figlio | filius, filiolus (latim) |
gòto | copo de bebida | bicchiere | ? |
insìa | saída | uscita | in + exita (latim) |
magnàr | comer | mangiare | manducare (latim) |
mamma | mãe | madre | mater (latim) |
mi | eu | io | me (latim) |
morsegàr | morder | mordere | de morsus de mordere (latim) transformado em verbo |
mostaci | bigodes | baffi | ? |
munìn | gato | gatto | talvez do som do "miado" do gato |
mus | asno | asino | ? |
nòtoła, barbastrìo, signàpoła | morcego | pipistrello | ? |
òcio | olho, cuidado! | occhio | occulus (latim) |
oxèło | pássaro | uccello | avicellus (latim) |
pantegàn | rato | ratto | ? |
pirón | garfo | forchetta | piro? (grego) |
plàstega | plástico | plastica | plastikos (grego) |
pomo/pón | maçã | mela | pomus (latim) |
récia | orelha | orecchio | auriculum (latim) |
sghiràt | esquilo | scoiattolo | ? |
sgnape | bebida alcoólica | liquore | schnapps (alemão) |
supiar, fis-ciar | assobiar | fischiare | sub + flare (latim) |
tiòr su, ciapar | levantar, erguer | prendere, chiappare | tollere, captulare? (latim) |
uncuò, 'ncò | hoje | oggi | hunc + hodie (latim) |
vaca | vaca | mucca | vaca (latim) |
vardar | olhar | guardare | warten (gótico) |
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