Falar da família Zavarise quer dizer falar de uma das
famílias mais antigas de Cornuda da qual saíram não apenas os nossos Zavarise,
mas também todos aqueles que vivem fora de nosso município: Montebelluna, Pederobba,
Crocetta del Montello, Volpago del Montello, etc. Parece estabelecido que todos
foram originados de Cornuda.
Voltando atrás no tempo a tradição fala de uma nobre família
fundadora, de origem em Montenegro (antiga Iugoslávia), que comerciava a cavalo
e que estava estabelecida em nossa região onde moravam e faziam negócios, que
iam muito bem.
Nós deste grande núcleo familiar conhecemos um pouco, mas também
se sabe que muito frequentemente a lenda tomou as rédeas da história.
- A grande casa sobre a colina -
Os Zavarise de tempos imemoráveis viviam todos na grande casa
do vilarejo Brotto onde, até poucos anos atrás, moravam duas famílias, os
Compagnola e os Di Bortolo.
A Estrada Feltrina antigamente tinha um traçado diferente do
atual: vinha de Montebelluna margeando o Rio Bianco até a taberna e Correios e
prosseguia sempre margeando o Rio Bianco, em direção norte, saindo um pouco
antes da igreja de S. Vettore. Onde agora se encontra o vilarejo Brotto e o
restaurante de mesmo nome não existiam casas, e para se encontrar alguma
habitação era preciso pegar uma trilha que, da colina, levava ao cruzamento do
atual semáforo onde há o palacete Munaro e agora o Stella d`Oro.
Abaixo da grande casa dos Zavarise passava o Rio Nero,
chamado familiarmente de “Rio das águas límpidas”, onde se podia pescar até
camarões. Ali os Zavarise levavam os animais para beber enquanto as mulheres e
talvez os rapazes se encarregassem de trazer água da antiga fonte ao lado da
atual taberna Alla Rocca. A mesma estrada que levava à casa não se identificava
com a atual Rua Ortigara, e se enxertava com a Rua delle Rizzelle cortando toda
a lateral da colina como se pode observar hoje do traçado que sobrou.
- Quantos eram os Zavarise?
Acredita-se que moravam cerca de 100 pessoas na grande casa.
Nem mais nem menos, pois todo ano nascia uma criança ou duas ao mesmo tempo em
que também morriam dois ou três idosos, mantendo-se assim este número.
Era então uma grande família patriarcal com 5 ou 6 “colunas”
(chefes) um grande número de crianças que daria para encher uma creche.
Tinham o hábito de se levantarem bem cedo pela manhã, até porque
paravam de trabalhar mais cedo à tarde para ficarem todos juntos, depois da
janta, no vasto céu aberto de verão ou no grande “confinamento” do inverno.
Também cantavam e deviam fazer um coro maravilhoso de maneira que quem passava
de carroça pela Estrada Feltrina parava para escutá-los.
Desnecessário dizer que os Zavarise eram grandes
trabalhadores e uma gente orgulhosa e prática, sem exceção alguma, inclusive as
mulheres. Qualquer menina ia também para o trabalho.
Uma vez, uma das moças se queixou, por carta, de não conseguir
dormir à noite por medo de encontrar o filho do seu patrão no quarto. A mãe, ao
receber a notícia, lhe mandou dizer que esperasse por mais 20 dias que ia
alguém a cavalo para buscá-la e que, enquanto isso, ela empurrasse e apoiasse a
cama na porta e dormisse tranquila.
Até na cura das doenças se comportavam de maneira singular: no
fim da primavera, iam ao vale de San Lorenzo para colher a Erva de São João (no
dia 24 de junho), eficaz contra as doenças e dores de calafrio e para preservar
os animais (o gado) de febre aftosa e carbúnculo (doença infecciosa causada por
uma bactéria). Todo ano um representante da família ia a pé, com as botas nas
costas, ao santuário de San Vittore, em Feltre, no dia 14 de maio, de onde
trazia um saquinho de sal bento, do qual se pegava um pequeno punhado e se
distribuía sobre cada cabeça de gado. O efeito benéfico durava um ano.
Da planície em torno da casa, toda cultivada de uvas
viníferas, se obtinha um vinho adocicado chamado “Rimini”, uma parte do qual
era vendida ao pároco-auxiliar de então o qual servia até para a Missa.
O pão era uma raridade: se fazia em média 3 vezes por ano e
frequentemente os rapazes o comiam com polenta como se fosse um banquete.
A polenta obviamente era feita todos os dias por pelo menos
duas pessoas.
- A diáspora -
Mas os Zavarise cresceram tanto em número que se viram
forçados a uma dolorosa divisão com o consequente reparte dos bens e do gado.
Não sabemos precisamente quando aconteceu, mas o evento deve
ter sido espetacular, pois até hoje os mais velhos preservam a lembrança
passando a história de geração a geração.
Era uma tarde de primavera quando os Zavarise se dividiram.
Uma cena bíblica, com o gado todo junto bebendo água pela última vez naquele
rio, enquanto que as “colinas verdes incumbentes sobre a branca e poeirenta
Estrada Feltrina estavam a olhar, incrédulas” (narrativa de um velho cornudesi). Depois os numerosos
presentes viram mover-se no ar o bastão que dividia o gado, enquanto algumas
retornavam solitárias ao estábulo, outras caminhavam em direção ao vale,
rodeadas por um monte de meninos carregando suas trouxas.
Era o início da diáspora. A primeira dispersão de uma grande
família, que deixava a terra migrando em direções diversas. O primeiro ato de
uma cena que se sabia não ser a última.
O gado representava para os Zavarise sempre um bem precioso,
inalienável. Basta pensar que apenas no ano de 1920 eles conseguiriam comprar
todo campo abaixo da casa (o terreno dos Boschiero, o vilarejo Brotto, o
terreno dos Viviani) se vendessem o melhor par de bois que tinham no estábulo,
mas não o fizeram porque, segundo eles, os animais domesticados valiam mais do
que os do campo.
A mesma coisa aconteceria alguns anos depois com uma carne de
caça que não quiseram permutar com um “quarto” de terra.
E da sua antiga casa, o que nos sobrou hoje? Obviamente a
grande casa-sede agrícola, que qualquer um poderia observar passando pela
Estrada Feltrina. Se então alguém tomado de uma compreensível curiosidade
quisesse ir à casa através da rua Ortigara, faria a seguinte descoberta: um antigo
afresco corroído pelo tempo, num lugar próximo à porta de entrada da casa, em
torno da qual se criou uma lenda, contada pelos mais velhos e que pode ter
raízes históricas. É a lenda de Luccheta Zavarise.
(tradução livre extraída de um capítulo do livro "Ambiente e Storia di Cornuda", de Luigi Boscarini e Silvano Rodato)